Tuesday, April 29, 2008

de doer o estômago

Hoje o noticiário poderia ser desprezado. Ninguém ia perder nada ao deixar de saber que existe um monstro na Áustria, que construiu um mundo subterrâneo para esconder a filha, abusada por décadas, e que gerou sete filhos. Do próprio monstro.

Ou ainda, que Ronaldinho saiu com travestis. ou ainda, que a madrasta de Isabella bateu com a chave na cabeça da menina. Ou ainda, que as redes de televisão estão pouco se lixando para os limites éticos de tudo isto, e estimulando o linchamento inclusive entre crianças.

As webs, com exceção do UOL, seguem uma linha pior que a TV aberta. Mulher samambaia, seções do BBB, celebridades e mais celebridades. Vem cá, mas será que toda a classe média do Brasil é burra ou gosta de emburrecer?

Eu simplesmente não consigo me manter em alguns portais por muito tempo porque não há nada que me interesse mesmo.

Sim, é verdade que o crime da Isabella dá audiência. Mas sem preguiça, vai. Matérias otimistas, e que pontuem valores também dão. Dá mais trabalho produzir, pesquisar, porque todos têm pensamentos viciados sempre no mesmo ponto. Mas e daí? Todo mundo sabe que a sociedade está doente. E a imprensa ajuda a curar?

Monday, April 14, 2008

Você já bateu em São Paulo hoje?

Bater em São Paulo é fácil. Aliás, ando sensível ao tema. Todo mundo fala contra a capital. É quase a Buenos Aires dos argentinos. Mas vamos lá, falar mal é muito fácil. Trânsito, periferia, miséria, violência.

Agora, uma pergunta que passei a devolver. O que nós, classe média, fizemos de fato para mudar esse quadro? Compramos a Veja? Reclamamos com o vizinho? Mudamos o canal e compramos TV a cabo porque a TV aberta "é impossível de ver"?

Pois sim, meus amigos, não adianta. A miséria continua aqui. E fingir que ela não existe é o que faz nascerem PCCs, indústria de sequestro, etc. O caminho para a conscientização é longo, longuíssimo. Mas precisa começar de algum lugar.

Este final de semana conversava com uma pessoa que rompeu com o sistema, como disse ele, e foi viver no interior para ensinar a sustentabilidade na prática. Disse ele, que São Paulo não tinha mais jeito, já havia acabado, não tinha saída.

Sim, sim, é verdade. Mas guerrilha por guerrilha, prefiro continuar aqui. Influenciar no meu dia a dia, oferecer possibilidades e principalmente, mostrar que há outros paulistanos mais atentos.
Para cada espírito de porco, há também um cidadão maior. A imprensa infelizmente só noticia o primeiro. Só Freud explica. Tudo que nos prende mais a atenção é um reflexo de nós mesmos. Quem explicaria o sucesso do livro Carandiru quando foi lançado dez anos atrás, e depois virou filme. Eu li porque queria entender um pouco mais sobre as nossas entranhas.

A classe média que não quer olhar por nojo à violência no fundo se enoja de partes suas, de sua própria insensibilidade. Não, não é fácil lidar com tudo isto. Mas e daí? Vamos passar a vida reclamando? Sem mexer ao menos uma palha?

Certa vez um dos grandes nomes da publicidade gabava-se de querer participar das reuniões de comunidade da região em que morava, mas não havia quórum segundo ele. "O Scorsese participa de todas as reuniões comunitárias nos EUA", comparava. Veja só, esse é o Brasil. Ele nao ia porque realmente estava interessado na comunidade. Mas porque queria imitar um gênio. Sabe por que não foi? Porque começar algo, mudar comportamento, dá mesmo trabalho. Dá trabalho pra caramba. Aliás, este bendito nem paulista é... Ganha dinheiro aqui, mas também fala mal de São Paulo...