Wednesday, August 20, 2008

Crônicas de um jornal

- Mas só vamos falar sobre esse seminário da aenejota? (ps: Associação Nacional dos Jornais).

- Sim, dizem do outro lado, e não deixam de salientar a necessidade de destacar na matéria o discurso do .... (ps: o nome do dono de dito jornal, um dos maiores do país).

O evento, no caso, reúne os executivos do setor para debater os desafios dos jornais neste novo mundo multimídia. E o nível de discussão, até o momento, passa por uma leitura óbvia das oportunidades e desafios do mercado. Um jornal não é mais um jornal, é uma mídia, digital, outra linguagem, não mais só um input, um estímulo, mas muitos, e muita interatividade, outra velocidade, outra necessidade.

A cobertura de negócios tem disso. Cada vez um setor está se reinventando, se ajustar ao momento e contexto atual. Com os jornais nao é diferente. Mas surpreende a letárgica velocidade com que promovem suas transformaçoes.

- Mas eu enviei os textos ontem, por que nao estáo aí? Dizia meu colega jornalista. Sim, ele nao havia percebido que a queda da internet, comum no horário de "rush", por volta das 18 naquela redacao, havia impedido o envio de alguns textos.

Um link da Embratel nao faz as pazes com os servidores da empresa jornalística. Tudo bem até aí. Nao fosse o prazo para consertar dito gargalo: até o final do ano.

Chocante quando falamos de um grande jornal, que se preocupa em cobrir seminários setoriais, os mesmos seminários que propõem mais agilidade na apuracao/divulgacao e até sugerem um repórter multimídia, que entrevista, filma e edita, e depois joga na rede, para satisfazer ao novo leitor virtual...


um ex-ministro da Economia disse certa vez numa entrevista que h[a empresas no Brasil que estao no estado da arte. Acredito. Acredito que Vale, Gerdau, Sadia, tenham atingido esse nirvana.

Mas sem internet, e sem perspectiva de conserto até o final do ano, eu afirmo sem medo de errar que as empresas jornalísticas continuam paradas no tempo. Enquanto todos os segmentos estao sofrendo com a oferta de vagas maior que a oferta de candidatos, neste grande jornal o mundo nao é assim. Este colega, que tinha 20 colegas quando ingressou em tal jornal há dez anos, hoje tem 3 para cobrir tudo que Sao Paulo oferece.

E já ouviu falar em sinergia, uma prática comum quando os jornais querem reduzir custos. Juntam duas redacoes em uma - online e offline , ou dois títulos num mesmo "mesao", a exemplo das inúmeras vezes que aconteceu com o JT e o Estadao, e agora também, a AE.

Chocante. A mídia se descolou do estado da arte, enquanto negócio, do resto da economia.