Friday, August 31, 2007

"O Brasil precisa de debate..."

Depois de assistir a algumas palestras com os grandes gurus de gestão, e acompanhando um seminário online sobre Mídia Digital, não há como notar a distância que há entre Velha e Nova Economia. Uma ponta de orgulho pelo Brasil. Alguns gurus se perderam diante de perguntas importantes feitas por executivos brasileiros, que já estão com a tecnologia na veia. E num país em que há seminários sobre mídia digital todo mês. O Brasil está escrevendo história.

Destaque para uma frase de um dos integrantes do debate promovido pelo Estadão.com. "O Brasil precisa de debate", disse um executivo da Talent. E no mínimo, o Brasil já está arranhando esse assunto, no intuito de iniciar a pavimentação dos caminhos da tecnologia.

Saturday, August 18, 2007

Um país amoral e imoral

Quando foi noticiada a pilhagem dos pertences das vítimas do acidente da Gol, com a descoberta de um celular roubado de uma das vítimas nas mãos de bandidos no Rio, bem como a compra de bens com o cartão de crédito de outra, falecida no ano passado em meio a mata amazônica com a queda do avião, pensei comigo: 'este país está amoral'. Amoral, que desconhece as normas éticas. Na verdade, descobri que o Brasil não é amoral. É imoral, ou seja, conhece regras sociais, ou desconfia que elas existem, mas não as aplica.

Passado esse episódio, que me deixou tão cruamente consciente, vieram outros ao longo desta semana, que só me confirmaram a amoralidade, ou imoralidade (a tragédia é a mesma, tanto faz a origem neste instante), sem margens à dúvida de uma sociedade que está doente, de alto a baixo da pirâmide.

Com uma mídia confusa do seu papel acusador e contribuinte das nuvens que esfumaçam a verdade de fatos, como no caso da cobertura da crise aérea com o acidente da TAM no mês passado, agora só não vê quem não quer.

Na quinta-feira, numa entrevista publicada no jornal Valor, o presidente da Philips no Brasil, Roberto Zottolo, exultou sua participação no movimento Cansei, dizendo que seu apoio a tal iniciativa visava remexer no "marasmo cívico" do Brasil, e afirmou: "Não se pode pensar que o país é um Piauí, no sentido de que tanto faz quanto tanto fez. Se o Piauí deixar de existir ninguém vai ficar chateado". Soube-se depois que tal entrevista não teve nenhuma pegadinha de repórter, daquelas que tentam direcionar respostas. Ele disse o que pensava e pronto.

Nesse mesmo dia em que circulava o jornal e causava a indignação de tantos brasileiros, bombeiros se passaram por Policiais Federais para roubar um dono de casa de câmbio, depois de uma armação semi-rocambolesca. Quis o inconsciente coletivo, ou quem quer que seja, que fossem desmascarados, e um repórter fotográfico que almoçava ali perto do episódio, clicou passo a passo a operação fraudulenta, sem saber que estava apenas clicando a ponta do iceberg dessa história.

Doeu tanto pela corrupção, como pelo fato de serem bombeiros, figura às quais dedicamos profundo respeito.

No dia seguinte, um grupo do movimento Cansei decide se reunir na praça da Sé para expor seu descontentamento e sua tentativa de remexer no tal marasmo cívico e novamente. Espelhou-se ali a realidade da sociedade brasileira. Parentes de vítimas da TAM ficaram chocados pelo fato de que não puderam subir ao palco armado no local para manifestar sua indignação e partilhar sua dor e preocupação com os populares sobre a falta de ação do governo e empresas porque o palco estava tomado por Ivete Sangalo, Hebe, Fernando Scherer, Paulo Vilhena, e outros tantos famosos indignados que foram reclamar da falta de espaço da sociedade nas decisões do país.

Uma notícia no portal Terra de ontem, descrevia: ""Fomos usados. Estávamos aqui para prestar uma homenagem às vítimas e nem isso conseguimos fazer", disse Ana Maria Queiroz, mãe de Arthur Queiroz, morto no acidente." Outro trecho da notícia dizia: "Arthur Gomes, irmão de uma das vítimas, também criticou o movimento. 'Nós somos as pessoas que éramos para estar aqui. A Ivete Sangalo perdeu alguém? A Hebe Camargo perdeu alguém? Não perderam. Tem um monte de segurança aqui não sei para que', desabafou."

O critério não era dar espaço aos mais machucados, aos mais frágeis desta história. O critério eram os mais famosos. As vítimas da TAM ainda precisam desabafar para superar um pouco a dor da tragédia. O Cansei foi reclamar da insensibilidade do Estado e agiu como tal. Um espelha o outro, desconfio...

Hoje, sábado, abrir o jornal e ver um falso fiscal da prefeitura de São Paulo sendo preso depois de tentar achacar o dono da boate Bahamas de São Paulo é simplesmente a cereja do bolo desta torre de Babel.

Sim, as instituições no Brasil perderam o respeito, a moralidade e qualquer limite em nome de...

Não sei. Talvez o presidente da Philips de fato não tenha sido mal-intencionado e melhor ter uma personalidade que queira remexer no marasmo cívico do que mais de cem milhões de brasileiros que jogam a culpa longe deles, mas não percebem que também precisam contribuir com o fim desse maramo. Ou seja, joga a água fora, mas não precisa jogar o bebê.

É preciso pelo menos prestar atenção às coisas certas.

Salvem as iniciativas de criar movimentos que manifestem a indignação. mas não me sinto à vontade de fazê-lo ao lado de personalidades que se envolvem em super faturamento de shows, que apoiaram sempre políticos internacionalmente sabidos corruptos, ou marketeiros que ajudaram a criar centros de consumo feitos com operações também sabidamente de caráter duvidoso.

Ok, vou procurar minha turma, fazer a minha parte.

Um choque de consciência vem logo depois de tragédias das quais poderíamos ter sido vítimas. Mas, um exercício. Se houvesse um incêndio na Rocinha, ou se um avião batesse na Rocinha e 5 mil pessoas (muito mais, por que não?) de lá tivessem morrido, o Brasil iria se condoer mais por quem estivesse dentro do avião, e diria, a boca pequena, "ah, tudo bem lá só tem bandido". Se alguém duvida de algo assim - e duvido que alguém duvide - é só reler a declaração do presidente da Philips. "Se o Piauí deixar de existir ninguém vai ficar chateado". Se a Rocinha fosse vítima de um míssil Scud muita gente celebraria.

Por duas vezes ouvi de gente esclarecida a frase "odeio pobre". "Se eu pudesse colocá-los num paredão e os matasse todos não fariam a menor falta". Alguém duvida que os adolescentes de Brasília que queimaram o índio pensavam assim?

Bem, o senhor Roberto Zottolo só trouxe à tona o que sempre se ouviu quando o assunto é sociedade. Depois, não se choquem com as reproduções disso em outras escalas. Ivete Sangalo, famosetes, globetes, todos legitimam estes atos bárbaros? Os mesmos que se indignam daquele anjinho massacrado no Rio, João Hélio?

Mas o que estamos dizendo para toda a sociedade? Continuemos assim? De alto a baixo?

Cada dia que passa estou mais convencida que viver é mais simples do que parece. Detesto dois jornalistas que estão na crista da onda porque se fizerem famosos por anunciar o caos. Mas passando o tempo, vejo que a preocupação deles não é social, não são propositivos, não ponderam, não colaboram. Aos poucos, vão se tornando bufões, e até por isso têm seu valor.

Sem perder a lucidez, é preciso dar um passo adiante. Isto tudo remexe profundamente em alguma instância poderosa nossa, que quiçá, nem conseguirei colher frutos pra mim, mas já ficarei feliz de me alinhar a propostas menos suicidas, e mais cooperativas.

Definitivamente, vivemos o país das entrelinhas. É preciso estar atento a elas, e de fato, perder o medo, para fazer algo mais, ainda que não se tenha claro ainda, mas amadurecer junto um sentimento maior de mudança.