A edição desta semana (27/11/06) da Veja prestou um serviço público sem precedentes. Pela revista, minha chance de casar ou encontrar alguém para partilhar a vida é de algo em torno de 10% ou até menos. A matéria mostrava como as mulheres tinham pequeníssimas chances de se casar depois dos 30 e nos condenou à solteirice por sermos bemsucedidas e resolvidas financeiramente. Sem ironia. Isso é muito engraçado, risível, hilário! A revista não dá conta dos zilhões de homens que cedem à pressão social de se casar para cumprir tabela mas têm corações infelizes precisando serem preenchidos com amantes e casos extraconjugais, ou simplesmente almas anuladas.
Não, não posso generalizar, mas num espectro amplo, muitas mulheres simplesmente desistiram desse modelo social, e sim, querem encontrar uma relação verdadeira, procuram um encontro de alma. Mas essa atitude ou expectativa é cerceada e ridicularizada o tempo todo pelos homens. Já ouvi definições sobre mulheres de 30 de amigos muito íntimos que me chocaram profundamente, tamanha ignorância e machismo. Sofri com esse pré-conceito, que também estava dentro de mim, afinal, nunca havia me preparado para a solteirice pós 30. By the way, cumpri a tabela, amor-sem-fim-casamento-de-véu-e-grinalda-filho-separação. Mas enfrentá-la, encará-la e admiti-la tem sido um exercício bonito, de perceber que abrir o coração e permitir que a vida siga seu fluxo não tem idade. Literalmente.
Uma das coisas mais doces que vivencio algumas vezes são os passeios no parque da Água Branca de sábado. Dentro de um amplo galpão, um baile da saudade matutino acontece semanalmente. A terceira idade se reúne para dançar a partir das 11 da manhã. É muito bom virar as avenidas do parque e deparar-se com casais idosos em cenas afetivas tão reais. As várias vezes que os vi invariavelmente a mulher estava sentada no colo do seu pretendente, em beijos enamorados. Que coisa boa.
O serviço público prestado por Veja foi admitir a leitura curta e rasa que a sociedade brasileira faz das mulheres. E garantir que muitas delas tenham em mãos uma tese para corroborar seu medo de se expor e acreditar em algo maior que a necessidade de casar, o amor de verdade. Pinçou ainda mulheres belíssimas de 30, 40 e 50 que reclamaram da solidão. Nenhuma que quebrou esse círculo vicioso, esse bloqueio mental coletivo. (Egoísticamente, penso: 'que bom! elas estarão em casa reclamando de sua falta de chances e eu estarei dançando com os homens que elas poderiam estar conhecendo!")
Qdo trabalhei na editora Globo, as revistas tinham um quê de comunicação de oferecer uma leitura, ou uma possibilidade positiva, às teses desenvolvidas nas reportagens. mas por Veja, nós assinamos nossa sentença de morte. Valeu Veja! Cada dia que passa, só confirmo que vc está perdendo a oportunidade de captar uma geração valorosa, com novas idéias para contribuir, e mudar o status quo, em todas as áreas. Inclusive das relações sociais.