Monday, July 13, 2009

A vida das "maridas"

Uma mensagem no celular:

- olá, C., aqui é L. Ligo para dizer que A. nao está bem de saúde e se nega a ir ao médico. Está com febre. Por favor, me ligue.

C. então retorna para L. e pergunta o que aconteceu.

- A. está doente, nao quer ir ao médico e eu nao posso ir pois tenho medo do que seja e possa passá-lo ao meu filho.

- claro, estamos em época de gripes suínas, não dá pra vacilar. Mas vou ligar a ela e ver o que fazer, reforçar o alerta.

- Alô, A., soube que você está doente. Poxa, pega um táxi e vá ao médico agora.

A. responde:

- Não, não se preocupe, já me mediquei, e vou esperar até amanhã.

Depois de uma troca de sugestões do que era melhor fazer, C. explica a A. que também não pode levá-la porque está com alguma virose que ainda nao sabe o que é, e seria perigoso para ambas por conta dos respectivos filhos. Mas C. desliga dizendo:

- Se você nao se cuidar, vou ligar para a T., que você sabe, é um general, e vai te dar mais broncas que eu.

- Obrigada, querida, C., eu te amo.

No dia seguinte C. ligo para A. e fica sabendo que estava bem melhor.

Um pouco mais tarde, C. comenta no msn com F. que estava preocupada com sua virose, que dependia de alguns exames. F., por sua vez, mãe de dois filhos, e gestora de três grandes projetos, não hesita em dizer:

- Se precisar, me chame, eu faço questão de ir com você.

Um dia antes, Tr., estava triste. Solteira e decepcionada com um amor vai-não-vai, que agora tomou outro rumo, e leia-se, outra parceira. C. deu todas as dicas de viagem para que ela conhecesse um lugar paradisíaco da Bahia, a fim de viver seu luto. Quando Tr. chegou lá, mandou torpedos carinhosos a C., gratíssima pelas dicas. Começava sua retomada com ajuda da Bahia de todos os santos.


As seis personagens aqui envolvidas têm entre 30 e 50 anos. Quatro são mães, cinco solteiras. Sempre enroladas com alguém, é verdade, nunca tão sozinhas assim.

Uma está prestes a casar e não tem filhos. Ela fica brava sempre que alguém reclama da falta de marido. Morou no exterior e considera a sociedade brasileira tão machista a ponto de as mulheres se sentirem oprimidas por não lograrem encontrar um parceiro ou fazer um filho.

Todas aprenderam a se reconhecer nas demais e assim, fortaleceu-se o respeito pelo leão morto de cada dia, e criaram um canal de generosidade inconteste.

No cansaço de administrar casa, carreira, filhos, família, e muita vezes lidar com enormes situações de desamor, as mulheres ficam exaustas e passam a buscar a compensação para essa eterna doação. Muitas vezes se perdem correndo atrás do amor romântico, para equilibrar essa conta que não fecha. Dão e não recebem na mesma moeda. Mas em networks femininas como a descrita acima, fica evidente o quanto são seres espontaneamente amorosos, que já vivenciam o amor de mãe, de amigas, de irmandade.

Tal qual o rei Roberto, que elegeu Erasmo Carlos seu irmão de fé, amigas verdadeiras se tornam irmãs, brincam de ser "maridas", em nome de proteger-se e reconhecer a dificuldade por oras de tocar a vida com tantas responsabilidades.

Quem sabe se aprenderem a agradecer o que têm de bom - e amor entre amigas e mulheres é um presente poderoso - relativizam os demais amores que esperam.


Os homens, por outro lado, têm esse lado bem resolvido: a irmandade, o corporativismo entre eles, que está presente desde sempre, mais legitimado por eles mesmos, que sempre aumentaram a tese de que o sexo oposto é competitivo.

A ética masculina realmente é válida, para proteger seu igual.

Porém, na hora da dificuldade, as mulheres, por essência, são extremamente solidárias entre si. Algo que muitos homens só conhecem através de suas companheiras, nem sempre através de seus amigos, que jamais permitiriam se chamar de "mulherzinhos" entre eles diante de um gesto de generosidade...

3 Comments:

Blogger Unknown said...

Carla, vc sempre me emociona com as suas reflexões e eu tinha certeza de que isso ia acontecer de novo. Serei sua marida para sempre e sei que vc também jamais me abandonará, sempre soube. É nóis, as geminianas alteradas...e descontroladas, mas sempre juntas e misturadas. É assim que queremos, assim somos e seremos. Te amo. beijos Fátima

7:04 PM  
Blogger Luana said...

Além da beleza desse network, você falou com muita propriedade sobre doação. É uma queixa minha constante em relação aos homens, mas lendo assim da forma como você colocou fica mais leve, porque tem ressonância entre nós, amigas, a troca dessas várias doações. Talvez seja essa a resposta mesmo, marida (s). É algo maravilhoso de mulherzinha.

4:40 AM  
Anonymous Chrys said...

Amei esse texto!

2:35 PM  

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