Sunday, April 05, 2009

"Você é petista, não?"

Ouvi essa pergunta esta semana, e como sempre, fiquei ressabiada com ela. Não, eu não sou petista. Mas sim, eu votei no PT. Sim, gosto de algumas coisas que este governo está fazendo e o outro não fez, embora seja, como todos - ao menos, acredito - indignada com a corrupção.

Fico ressabiada e na verdade incomodada porque não ter ódio do Lula em São Paulo é algo mal-visto. Em Curitiba, quando conversava com a dona da banca sobre a revista Veja - que para mim, é falha e não retrata a realidade inteira, apenas a que o Sudeste quer ver - , ela confirmava uma impressão minha. Ela disse que de dez semanais, oito são revista Época e Carta Capital (revista assumidamente de esquerda) e duas são Veja.

E Curitiba não é filha da Bolsa Família, como o Nordeste...

Gosto de algumas coisas que este governo vem fazendo, ainda que sob uma saraivada de críticas. Ah, Bolsa Família e Bolsa Escola. Reclamem o que queiram, isso foi a única coisa que reduziu o impacto da desigualdade neste país. E, como sempre fiz como jornalista na minha vida, fui tirar dúvidas a respeito do que se fala com o governo junto a especialistas da oposição.

É assim que se tem uma opinião mais honesta, menos enviesada. Você lê o Estado de S. Paulo para ler o que efetivamente o PT faz. E você lê a Carta Capital para saber o que efetivamente o PSDB faz.

Gosto deste governo mas não sou cega. Aliás, iniciei minha vida "política" como cidadã apoiando Covas para a presidência nos meus tempos de faculdade. Isso mesmo, eu era tucana e achava que o Brasil não estava pronta para alguém tão agressivo como o Lula daqueles anos.

Gosto de muitas pessoas do PSDB, e acho de fundamental importância o que eles fizeram pelo Brasil. Mas o pragmatismo tucano sempre me incomodou, o "nunca vai dar certo", quando se tratavam de projetos sociais, e a importação de modelos estrangeiros, sem anestesia ou filtro, para problemas essencialmente tropicais.

De fato, fui uma das latinoamericanas (sou nascida no Chile e criada no Brasil, e naturalizada brasileira) que se entusiasmou com o "He is the man!" do Obama para com o Lula.


Eu não vou ficar fazendo apologia para políticos que defendem a minha classe (média). Quem estiver no poder vai governar bem pra mim, o máximo que acontece é aumentar um imposto aqui ou acolá.

Há uma classe média consciente no Brasil, que vota mais à esquerda porque os partidos mais voltados à esquerda estão mais próximos das causas sociais. Isso não é um fenômeno brasileiro, é mundial, é da origem dos partidos de esquerda.

Num artigo sobre o assunto, "Esquerda versus Direita", de 2006, Paulo Roberto de Almeida, doutor em Ciências Sociais, sintetiza um dos aspectos que diferenciam esses dois extremos: "... a esquerda reivindica a si mesma uma identificação com a resolução de determinados problemas sociais via forte atuação do Estado e políticas indutoras de transformação, ao contrário dos “liberais”, ou direitistas, que confiariam mais nas forças de mercado para que essa correção se faça."

É verdade, os liberais querem que o mercado regule. E a esquerda, quer o poder com o Estado. Basta ver o que aconteceu com o Mínistério das Comunicações e ver que esse conceito pode ser muito mal empregado pela esquerda - o ministro e o Ministério tiraram poder da Anatel (criada na gestão FHC), o que é um retrocesso no papel do cidadão , algo aliás que vai contra a própria cultura da esquerda.

Mas ao mesmo tempo, os nossos liberais cantaram na mesma cartilha dos liberais do mundo afora, que hoje estão às voltas com a crise criada pelo "mercado regulador".

Ou seja, há imperfeições nos dois modelos.

Mas ao contrário de tempos atrás quando havia uma divisão maniqueísta de eleitores, confesso que acho demodê julgar pessoas pelo que elas votam. Eu não me nego a votar no PSDB de novo ou mesmo no PMDB se houver um bom plano. Eu quero eleger quem agora vai manter o que de bom fez o PSDB - estabilidade econômica e marcos regulatórios importantes -, o PT (melhora da desigualdade social) mas avance para reformas profundas para ceifar a corrupção endêmica e invista numa revolução na educação.

De verdade, né?



1 Comments:

Anonymous Léo Bueno said...

É total verdade essa história do discurso do sudeste. Aqui em São Paulo as brigas têm sido mais ferrenhas, porque a maior parte é tucana e gosta da Veja e do Estadão - não porque eles dizem a verdade, mas porque eles dizem o que os tucanos querem. Eu também não sou petista de carteirinha, mas me alinhar a esse discurso da direita, jamais!
Abs

11:02 AM  

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