Sunday, March 01, 2009

Crônicas colegiais






Dia destes aceitei o convite para reencontrar a turma do colegial. Colégio classe média da Vila Mariana, nem muito bom nem muito ruim, que preencheu a minha vida por cinco importantes anos na década de 80.

O grupo que reencontrei não foi grande, mas como eu, os presentes estavam curiosos para conhecer o que cada um fez, os caminhos que tomaram, pessoas com quem manteve contatos, memórias de uma semi-infância, começo da adolescência.

Senti um grande prazer de estar ali, ver essas pessoas com quem não falava - há vinte anos - e não fosse eu e minha língua comprida começar a debater política, o papo havia esticado mais.

É, eu provoquei, mas foi para manter o momento. No fundo, porque foi muito bom olhar para trás e reconhecer meu passado, o que me fez sentir à vontade com o meu presente. Estudamos numa escola nem muito boa nem muito ruim no ensino, mas que me deu ao vivo e à cores uma série de vivências que estruturaram a minha personalidade.

Tive lá professores de História meio outsiders, que nos colocavam para debater a democracia, instigaram minha presença de espírito.


Tive também um professor que contraiu uma doença no sangue, como ele partilhou com a gente na ocasião, que viríamos a saber mais tarde, era a tal da síndrome de imunodeficiência adquirida, mais conhecida como aids. Ele morreu de aids e foi a primeira vez que eu senti tão perto algo que marcou esta geração.

Tive uma professora de desenho muito louca, que dizia "caralho, puta que o pariiiiiiiiiiiiiu, calem a boca!!!!"

Perdemos outro professor querido, que faleceu num acidente de carro.

E roubamos o resultado de uma prova, mentimos a classe toda, algo que foi descoberto pela diretoria.

ah, e desfilamos de anjinhos quando éramos a classe mais bagunceira da escola.

São as experiências que marcam a nossa vida social e afetiva numa fase importante da construção da nossa identidade.

Era uma escola católica, particular, que nem boa nem ruim, nos deu amigos de presente. Foi no ginásio e no colegial que fiz amigos que perduram até o dia de hoje, que ajudaram a moldar a minha personalidade.

Dentre a pequena turma do último encontro, estavam pessoas com quem não estabeleci laços tão próximos, mas que mantiveram amizade entre eles.

São momentos imperdíveis, pedacinhos da nossa identidade e da nossa história.

Penso que naquela época sonhava com tudo que realizei até aqui,talvez um pouquinho mais ou um pouquinho menos, depende do ponto de vista.


Depois de vinte anos, a gente conclui. Caramba, eu já vivi bastante coisa. E olha para a frente e pensa que essas duas décadas para o futuro hão de se repetir duas ou três vezes. Ou seja, muita vida pela frente, que dependem dos sonhos que vamos acalentar, e os amigos que vamos escolher para continuar a aperfeiçoar o nosso molde no caminho que ainda temos.

1 Comments:

Blogger Guilherme Campos said...

Cara Carla,

ganhou seu segundo leitor... Não tive oportunidade de ler as outras "blogadas" ainda, mas gostei muito desta. É claro que você ocultou alguns dos melhores embates do primeiro Debate, digo, do nosso primeiro encontro de ex-colegiais... Foi muito bom poder falar mal do Lula...
Foi um prazer muito grande voltar a conhecer novamente antigos amigos. Digo voltar a conhecer pois depois de 20 anos muitas coisas mudaram nas vidas de todos nós e posso estar sendo convencido por nós, mas acho que aprendemos muito e aumentamos não só a idade mas também, e principalmente, a experiência de vida. Alguns mais a esquerda outros mais a direita, uns mais provocadores outros mais tranquilos, mas todos sofremos influência destes 20 anos.
Parabéns pela iniciativa e espero colaborar muitas outras vezes com seus textos e com novos encontros...

Um beijo,
Guilherme

12:38 PM  

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