Thursday, February 12, 2009

Aquele tempo já chegou



Houve um tempo em que os futurólogos apontavam para o que estava para acontecer no mercado e aquela profecia se auto-realizava, a conta-gotas, num prazo de cinco a dez anos. Todo jornalista de negócio, como eu, sabia que falar em massificação de PCs na década de 90 era algo tão tão distante, que de fato, demorou toda uma década para acontecer.

Hoje, porém, tudo ficou distinto. O mundo que Toffler previu nos anos 90, já falando em segmentação de mercados, é a mais pura realidade e já nao há mais como voltar atrás.

Chris Anderson repaginou essa tese e criou outra figura de linguagem no século 21, a cauda longa, para lembrar que poucas empresas gerariam produtos de massa, e muitas, produtos de nicho.

O mais incrível nisso tudo, no entanto, nao é o acerto da previsão, mas a velocidade com que os ciclos de negócios se renovam. A tecnologia de fato atropelou o mundo e nao há mais o que fazer, pois o mundo se apropriou da rede e a rede se apropriou do pensamento humano.

O que é melhor para o homem, vinga. O que é melhor só para os acionistas da empresa, não vinga.

Já há um mundo novo e quem tem mais de 30, como eu, está testemunhando essa revolução a passos largos. Ainda estamos deslumbrados com o fato de que não precisamos mais comprar CDs ou pegar filmes na locadora, porém, ainda usamos o Emule, enquanto novas versões de softwares para baixar música facilitaram ainda mais essa tarefa.

A nova geração, entretanto, nao vai ter ideia do que era pagar para ter acesso a cultura, leia-se música e video, por exemplo. Aliás, as estatísticas do Ministério da Cultura mostram que o PIB da cultura cresceu significamente no país em função das produções audivisuais - consumidas maiormente depois que a tecnologia entrou na casa de todo mundo.

Todos conseguem comprar um computador. Todos sabem da importância de ter um computador. Aliás, o grande acesso no Brasil ao computador aconteceu em função da classes mais baixas que entraram via lan house.


O Brasil, lembrou ontem Rafael, um professor da ESPM entusiasta da web, tem mais pessoas com acesso a computador do que com acesso ao saneamento básico.

Esse acesso à informação criou os famosos saltos quânticos. Com acesso a conhecimento, algumas camadas ganham mais mobilidade. O rapaz da periferia tem o mesmo acesso a informações que um rapaz da classe alta. Ele é capaz de pesquisar sobre determinados sintomas para entender alguma doença, ou baixar arquivos para estudar antes de alguma prova. Ou adquirir conhecimentos em tecnologia, necessário para melhorar o currículo, diretamente da net.

Impossível nao relacionar o crescimento da classe média também a esse melhor acesso a informação. Hoje tudo está na rede. Voluntariamente.

Hoje, nao se pode mais pensar em criar um produto perene. Ele será o que o mercado quiser. Já estamos numa era em que, de fato, o consumidor manda.

Esse mesmo mercado, fragmentado em nichos, gerará inúmeros pequenos negócios e já prenuncia o fim dessa loucura de tantos conglomerados com faturamento maior que o PIB de alguns países.

Isso gerou as loucuras de Wall Street, com suas Enrons, MCIs, e Lehmann Brothers, além de suicidios e doenças eternas como o estresse, assédio moral, e por aí vai.

Hoje só vai ser boa aquela empresa que de fato entregar o que promete. Como disse numa feliz entrevista a diretora do Núcleo de Estudos do Futuro da PUC de São Paulo, Rosa Alegria, o novo indicador do futuro é a coerência. Entre o que se fala e o que se faz.

Já é real o fato de que os jovens se informam sobre determinados produtos nos fóruns de discussão na internet. Nao ficam mais à mercê da publicidade passiva.

E o consumidor quer benefícios, de preferência, que beneficiem a ele e ao coletivo, lei-se meio ambiente, cidade, país ou comunidade à qual pertence. Mais uma vez, Anderson acertou com o livro que lança este ano, Free, anunciando a era dos serviços grátis. Por que vc vai pagar por música se vc pode tê-la de graça?

Do alto de seus escritórios envidraçados, muitos executivos nao imaginaram que a net despertaria um sentimento de colaboração tão grande, em que a partilha de informações se tornou natural. Uma luz sobre o lado bom do ser humano, talvez para contrapor anos de sombra que fizeram com que o homem perdesse o interesse pela vida, enquanto vida mesmo, do outro. Mata-se por qualquer mesquinharia.



Mais uma vez, reforço. Esta nova geração já aprende por aqui.

sim, é provável que venham outras doenças, outras paranóias de outra natureza. Mas certamente é outro momento, em que é impossível desconsiderar tantas transformações para todos os lados em tão pouco tempo.

Cadeias de valor

Já são várias as cadeias de valor que desapareceram como num piscar de olhos. Das gravadoras até o consumidor, haviam vários intermediários que se beneficavam dos grandes hits. Pois essa cadeia desapareceu, como desapareceu a de aluguel de telefone, como reduziu a do relógio, como diminui das distribuidoras de filmes.

Algumas ainda parecem que nem sairão do papel - pelo menos do tamanho que era imaginado - como a da TV Digital. A tecnologia IP atropelou esse processo.

O professor da ESPM destaca algo que os especialistas já alertavam. O mesmo padrão de partilha da web está influenciando os modelos de negócios no mundo de fora. Hoje as cadeias de valor se formam conforme a demanda.

Cada um especialista em alguma área. Se houver a necessidade de montar xyz para tal empresa, tal e tal empresa serão acessadas. E assim por diante. As cadeias vão se formar de maneira tranquila, sem ânsia de reserva de mercado, pois nao há espaço para reserva de mercado num mercado altamente fragmentado.

Um dia as empresas estarão fazendo uma coisa para determinado cliente, e dois meses depois, quando o consumidor estiver mais interessado em outra coisa, novamente a empresa ou a cadeia de valor em torno dela se reinventa para satisfazê-lo.

E uma coisa é certa. Nada mais será como antes na relação entre empresas e clientes. Ou as empresas oferecem benefícios que façam falta ao mundo, ou elas somem. Ou elas se comportam como cidadãs, ou a rede a queima em questão de segundos. Não há equipe de resistência de empresas que suporte a verdade. Quem for desonesto, vai rebolar para sobreviver. Qualquer tentativa de enganar o consumidor é crucificada. Ou a empresa muda ou os consumidores a matam pelas fofocas na web.

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